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| | EDITORIALEditorialLetter from the editors
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos Surpreenderá a todos não por ser exótico Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto Quando terá sido o óbvio [Caetano Veloso, Um índio] COMO HABITAMOS ESTE COMUM? Ou..., como o estaremos habitando daqui a três meses, quando esta revista impressa chegar a todos? De semana em semana, mês em mês... Semestre, ano, década: tensão entre o tempo e o acontecimento. Tempo paradoxal, veloz e que não passa. Tensão também que parece infindável, de difícil transposição, entre nós e os outros. Quem somos nós, quem são os outros? Como recuperar a alegria de estarmos nas ruas? Virá o acontecimento de reconhecermos as humanidades todas que nos habitam? Muito nos diz o fato de que dois dos artigos deste número tenham como eixo um diário de bordo, no qual a interrogação mais íntima coloca em jogo a dimensão cidadã. Tanto a presença dos outros em nós como a dimensão coletiva do processamento psíquico sobressaem no conjunto de textos. Diferentes formas e finalidades de intervenções grupais estão em destaque. Algumas abordam diretamente a clínica, enquanto outras indicam caminhos pelos quais a psicanálise pode se fazer presente no social. Artigos que nos levam a refletir sobre diferentes formas de fazer e apresentar a clínica, novas possibilidades de elaboração em linha, do luto, das angústias na roda de conversa. Refletir sobre a importância da prática clínica psicanalítica nas mais diversas circunstâncias, revelando sua potência em consonância com as marcas culturais e sociais de nosso tempo. Como habitamos este comum? Hoje, mais que nunca, essa é a questão, levantada por Osvaldo Saidon, que urge respondermos/ para a qual precisamos olhar. O artigo de Ana Helena de Staal, Maurice Dayan (1935-2020), um psicanalista no ápice, a respeito da trajetória deste autor falecido recentemente, e que por erro nosso não foi publicado na revista impressa Percurso 64, encontra-se agora neste número. Na capa deste número, uma escultura de Nuno Ramos foi escolhida por sua expressividade visual, mas a força do entrecruzamento do que vemos com seu título nos surpreende a posteriori: Choro negro. Choro negro que é choro de todos, a conversar com a entrevista realizada com Maria de Lourdes Teodoro: Afrobrasilidades, sem hífen. Será que talvez também a tristeza possa abrir caminho a atos potentes e includentes e, quem sabe um dia, a amorosidade e a alegria possam permanecer sem elidir o enfrentamento de nossos conflitos? BOA LEITURA!
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